segunda-feira, 3 de maio de 2010

"Cidade de Deus, nunca mais"

Por Elio Gaspari. Publicado no Jornal "O Globo" de 25 de abril de 2010.

O prefeito Eduardo Paes anunciou a construção de 170 prédios com 3.400 apartamentos de 42,6 metros quadrados no bairro de Triagem. Neles serão instaladas cerca de 13.500 pessoas que vivem em favelas da cidade. Há muito tempo não saía do Rio de Janeiro uma notícia tão boa. A área fica a 15 minutos do Centro, próxima às linhas de trem, e Paes promete um projeto urbanístico que integre os prédios ao bairro, livrando-os da maldição dos conjuntos habitacionais. Se fizer isso abrindo um concurso público, o Rio poderá ganhar mais um marco arquitetônico.

A transferência desses cariocas para um bairro vivo, com comércio, serviços e transportes próximos, desdenha a demofobia que há um século se esconde na discussão do futuro das favelas. Não se trata de tirar cidadãos de um lugar, mas de saber para onde eles irão. Afinal, a maioria dos moradores da Avenida Vieira Souto aceitariam ser removidos para Park Avenue, em Nova York.

O economista Sérgio Besserman, presidente do IBGE durante o tucanato, deu uma entrevista ao repórter Oscar Cabral defendendo as remoções de favelas e exemplificou suas virtudes: "A lagoa Rodrigo de Freitas, cartão-postal da Zona Sul carioca, é um caso emblemático dos aspectos positivos que podem se seguir a uma renovação. Quando a favela foi retirada dali, em 1970, os imóveis da região, cujos valores vinham sendo depreciados, inverteram a curva e passaram a se valorizar".

Certo, mas faltou dizer onde terminou a curva dos moradores da favela da Praia do Pinto. Eles foram mandados para Cidade de Deus, símbolo internacional da depreciação do Rio de Janeiro, produto emblemático do urbanismo demófobo. A favela não foi removida de acordo com uma política pública. Numa noite, a comunidade foi incendiada, provavelmente por Nero, o imperador que limpou Roma.

sábado, 1 de maio de 2010

Feijoada completa

Amanhã, vai rolar a "Feijoada do Chapéu", uma iniciativa da Associação de Moradores do Chapéu Mangueira de celebrar o samba e a culinária da comunidade. Apesar de ser apenas a segunda edição do evento, a ideia é que ele aconteça todo primeiro domingo de cada mês.

Com início às 13 horas, a feijoada começa a ser distribuída no mesmo momento em que um grupo de músicos da própria comunidade começa a batucada. A comida é servida em pratos que custam R$ 10. Nos intervalos da roda de samba, são exibidas fotos do Chapéu Mangueira captadas por Gabriel Paiva, fotojornalista do jornal "O Globo".

A feijoada tem um motivo nobre: a renda adquirida com o evento é encaminhada aos projetos sociais que tentam melhorar a vida da comunidade, ou seja, ao curtir seu domingo entre gente positiva e de bem com a vida, o folião estará contribuindo para a promoção do bem-estar de todos. Vale a pena.

Viva, favela!

ATENÇÃO! Se você está aqui porque anotou o endereço do blog divulgado em cartazes espalhados pela UFF, seja bem-vindo. Minha ideia é divulgar a favela e sua gente positivamente, falando não só do presente como também relembrando o passado das comunidades. Leia, comente e colabore com críticas e sugestões. E ajude na divulgação do blog!

O cinema nas favelas


Cenário comum no cinema brasileiro - que, desde a década de 1950, retrata o cotidiano nas comunidades cariocas -, a favela já foi mostrada de diversas formas: como lugar idílico, caldeirão cultural e, mais recentemente, como espaço onde imperam a violência e o tráfico de drogas. A instalação das UPPs, no entanto, tem modificado drasticamente o dia a dia dos moradores desses locais. Resta saber se os cineastas estão interessados em mostrar a paz e a felicidade que reinam em favelas pacificadas desde o ano passado.

No Morro da Babilônia, que serviu de cenário para "Tropa de Elite" e foi documentado por Eduardo Coutinho em "Babilônia 2000", uma iniciativa muito interessante ganhou espaço na mídia na última semana. Situada no Leme, Zona Sul da cidade, a comunidade acaba de inaugurar um cineclube e um curso de cinema. Trata-se do "Cinema Comunitário", projeto de Wallace Meirelles e Melina Guterres que conta com o apoio do Oi Futuro. A iniciativa, que também atende os vizinhos que moram no Chapéu Mangueira, tem tudo para dar certo.

Na segunda, dia 26 de abril, a sala da Associação de Moradores estava lotada de gente interessada em participar da empreitada. Houve uma palestra sobre cineclubismo com Calebe Pimentel, um entendido no assunto. Outras ideias que começaram assim hoje são respeitadas mundo afora, como o "Nós do Morro", que leva teatro, cultura e protagonismo aos jovens do Vidigal, e a "Cufa", que tem no rapper MV Bill seu defensor mais importante.

Vale a pena lembrar que, até o final da década de 90, existiram iniciativas isoladas nas comunidades do Rio que divulgavam filmes e promoviam discussões. Havia cineclubes nas comunidades da Maré, Alemão e Cidade de Deus, por exemplo, mas a violência provocada pela instalação do tráfico de drogas nesses locais fez com que a boa troca de ideias perdesse cada vez mais espaço. Matéria do "Favela tem Memória" recupera essa história: http://www.favelatemmemoria.com.br/publique/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?from%5Finfo%5Findex=6&infoid=104&sid=7